Em matéria sobre o tema, a Folha reproduziu de forma imprecisa declaração dada por representante do coletivo. No editorial, jornal parte de alguns fatos verdadeiros e de outros contestáveis para defender conclusão autoritária.

Em carta enviada ao Painel do Leitor e ao Ombudsman –  ainda não publicada pelo jornal – o Intervozes afirma que o editorial da Folha de S. Paulo do dia 31 de julho “parte de alguns fatos verdadeiros e outros contestáveis para chegar a uma conclusão absurda e autoritária, ao propor o fechamento da TV Brasil”. O coletivo sai em defesa da empresa como uma “conquista de todos aqueles que acreditam no papel central que um veículo de comunicação deve ter em uma sociedade”. Veja abaixo a íntegra da nota.

Na opinião do jornal paulista, intitulada “TV que não pega”, a TV Brasil “é antes de mais nada um cabide de empregos” cujos “vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada -antes que se desperdice mais dinheiro do contribuinte”. O Intervozes afirma que tem sido critico em relação a alguns aspectos da EBC, mas “exatamente no sentido do seu fortalecimento, e não de seu desmantelamento, que só ajudaria a reforçar a concentração dos meios de comunicação e a hegemonia do setor privado”. Por fim, a nota do coletivo rebate a postura do jornal afirmando que a “arrogância e autoritarismo só ajudam a pôr a Folha de S. Paulo em descrédito, além de demonstrar seu descompromisso com a construção de uma mídia mais plural e diversa”.

O editorial da Folha veio na sequência de três reportagens sobre a TV Brasil, assinadas pela jornalista Ana Paula Sousa no dia 30 de julho. Duas delas traziam um tom bem crítico, apontando como problemática a saída de integrantes do Conselho Curador e diretores ligados ao Ministério da Cultura, com indícios de má gestão, além do comando concentrado na mão do ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. Uma das matérias criticou ainda a baixa audiência e apresentou uma entrevista em que credita ao Intervozes, por meio de Bia Barbosa, representante do coletivo, a declaração de que “a EBC, hoje, é apenas uma emissora, não uma rede. Ela chega a quem tem TV por assinatura, mas o alcance pela TV aberta é mínimo.”

No dia seguinte à publicação da matéria, Bia Barbosa solicitou à Folha de S. Paulo que corrigisse um equívoco na declaração dada por ela. “O Intervozes sabe que a EBC não é uma emissora apenas e reconhece e saúda a construção de uma rede pública nacional de televisão, formada a partir do nascimento da TV Brasil em parceria com as emissoras educativas estaduais. O que afirmamos à repórter é que esta rede, embrionária, ainda está longe de representar a consolidação de um sistema público de comunicação no país – este sim previsto na Carta de Brasília”, afirmou Bia. Porém, até a presente data, a declaração não foi retificada em nenhuma das seções do jornal.

Os erros também foram questionados pela presidente da Empresa Brasil de Comunicação, que afirmou que a matéria tem “contêm equívocos gritantes, como a afirmação de que não está havendo incorporação da produção independente à programação, em pleno curso do Pitching TV Brasil, muito bem recebido pelo setor”. Para dar a sua versão dos fatos, a presidente publicou a íntegra da entrevista concedida no site da empresa.

Audiência – Com objetivo de debater o papel da EBC na efetivação de um verdadeiro sistema público no país, o Intervozes se pronunciou durante a audiência pública realizada pelo Conselho Curador no dia 09 de julho. Na ocasião, o coletivo também entregou aos presentes um documento abordando três aspectos centrais: gestão e participação, financiamento e programação.


Íntegra da carta enviada ao Painel do Leitor e ao Ombudsman:

Em editorial publicado nesta sexta-feira, a Folha de S. Paulo parte de alguns fatos verdadeiros e outros contestáveis (como a afirmação de a EBC ter se tornado cabide de empregos) para chegar a uma conclusão absurda e autoritária, ao propor o fechamento da TV Brasil. A criação da EBC é uma conquista de todos aqueles que acreditam no papel central que um veículo de comunicação deve ter em uma sociedade e na necessidade de se ter uma emissora genuinamente pública no Brasil, que contribua para o fortalecimento da nossa democracia. Acompanhamos o desenrolar desta história desde o início e temos sido críticos nos aspectos que exigem aprimoramento. Mas as críticas que fazemos são exatamente no sentido do seu fortalecimento, e não de seu desmantelamento, que só ajudaria a reforçar a concentração dos meios de comunicação e a hegemonia do setor privado. Essa arrogância e autoritarismo só ajudam a pôr a Folha de S. Paulo em descrédito, além de demonstrar seu descompromisso com a construção de uma mídia mais plural e diversa.
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Íntegra do pedido de correção da declaração dada pelo Intervozes nas matérias sobre a TV Brasil

Caros colegas da Folha de S.Paulo,

Em entrevista concedida na última quarta-feira à repórter Ana Paula Sousa, manifestei a posição do Intervozes acerca do modelo de distribuição da TV Brasil. Houve, no entanto, um equívoco na declaração publicada. O Intervozes sabe que a EBC não é uma emissora apenas e reconhece e saúda a construção de uma rede pública nacional de televisão, formada a partir do nascimento da TV Brasil em parceria com as emissoras educativas estaduais. O que afirmamos à repórter é que esta rede, embrionária, ainda está longe de representar a consolidação de um sistema público de comunicação no país – este sim previsto na Carta de Brasília.

Atenciosamente,

Bia Barbosa
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social