Em defesa do Marco Civil
Por Intervozes em
Entidades da sociedade civil apresentam carta em favor da aprovação do Marco Civil da Internet no Congresso Federal.
EM FAVOR DO MARCO CIVIL DA INTERNET NO BRASIL
O Marco Civil da Internet no Brasil é uma das mais importantes e avançadas propostas sobre o uso da Internet no mundo. Sua importância manifesta-se tanto no processo pelo qual foi elaborado quanto em suas disposições. A elaboração desse projeto de lei percorreu um amplo e inédito processo de participação direta da sociedade, através da Internet e da realização de diversos seminários e audiências públicas em várias capitais do país. Todas as sugestões recebidas foram consideradas e contribuíram para a consolidação do atual PL 2.126/2011. Um texto moderno, equilibrado e essencial para estabelecer direitos no uso da Internet no País.
“A Constituição da Internet”
O projeto de lei hoje em tramitação no Congresso Nacional cumpre o objetivo assumido desde 2009: assegurar em lei os direitos fundamentais relacionados ao uso da Internet. O Marco Civil define a moldura jurídica da responsabilidade de todos os atores envolvidos, incluindo o Poder Público. Traz também princípios, valores, garantias, direitos e obrigações na rede. Não por acaso, foi apelidado de “A Constituição da Internet”.
Uma Internet livre, democrática e inclusiva
O Marco Civil preserva a Internet como ela deve ser: uma rede aberta e descentralizada, na qual os internautas são o próprio motor de colaboração e inovação. Seu principal objetivo é estabelecer bases democráticas para as relações na Internet, aliando liberdade, inclusão e criatividade. Tanto é assim que o projeto de lei tem entre seus fundamentos: a garantia dos direitos humanos, o exercício da cidadania, a preservação da diversidade e a finalidade social da rede.
Liberdade de expressão
A liberdade de expressão é imprescindível para o uso democrático da Internet. Assim, o Marco Civil garante a liberdade de expressão como um de seus princípios fundamentais. Com isso, ele também reconhece a Internet como ferramenta essencial para o direito à comunicação. O PL 2.126/11 estimula a livre produção, circulação e difusão de ideias e opiniões na rede, contribuindo significativamente para o acesso da população conectada.
Privacidade e proteção dos dados pessoais
Preenchendo uma séria lacuna normativa do ordenamento brasileiro, o Marco Civil traz previsões efetivas sobre privacidade e proteção dos dados pessoais dos usuários. Ele protege a intimidade e a vida privada, direitos fundamentais com potencial de serem afetados pela tecnologia. Com sua aprovação, os dados pessoais não serão mais utilizados sem a autorização de seus titulares. Além disso, fica garantido o sigilo das comunicações virtuais, ao mesmo tempo em que o Estado mantém suas possibilidades de atuar administrativa, criminal e processualmente. Há uma prazo máximo para a guarda dos registros de conexão e de uso da Internet, sendo que tais informações só serão disponibilizadas mediante ordem judicial.
Neutralidade de rede
O Marco Civil proíbe a discriminação de tráfego na Internet, garantindo a neutralidade da rede. Assim, uma empresa não poderá diminuir a qualidade da conexão em virtude da navegação do usuário, ou cobrar muito mais para prover um acesso irrestrito à rede. A regra é todos serem tratados de forma igual, sem privilégios àqueles que podem pagar mais. Mesmo com detalhes técnicos a serem regulamentados posteriormente, a neutralidade surge no Marco Civil como um princípio autoaplicável, que possibilitará a expansão dos serviços, a concorrência saudável entre provedores e a igualdade de navegação na rede.
Responsabilidade dos intermediários
O Marco Civil estabelece uma dinâmica justa e democrática para a publicação e retirada de conteúdos na rede. Como regra, só uma ordem judicial obrigará os provedores de serviço a remover conteúdos publicados pelos internautas. Aprovada, essa lei evitará a censurá prévia de conteúdos, feita na esfera privada, afastando inicialmente a responsabilidade das empresas para julgarem casos cada vez mais comuns de conflitos sobre fotos, vídeos ou textos. Frente à ausência de legislação específica sobre o tema, delimita-se de forma muito lúcida a responsabilidade dos intermediários na Internet, com respeito à liberdade de expressão e ao direito à informação.
Acesso à informação pública, transparência e participação social
Dialogando plenamente com uma outra recente conquista da sociedade brasileira, a Lei de Acesso à Informação, o Marco Civil garante a publicidade e a disseminação de dados e informações públicas, a adoção de tecnologias, formatos e padrões livres e abertos na rede estatal, além de maior eficiência e celeridade no “governo eletrônico”. Determina com clareza o papel do Estado, que deve estabelecer mecanismos transparentes, colaborativos e democráticos para a governança da Internet no País.
Por todas essas razões, as entidades, movimentos, coletivos e grupos acadêmicos assinam essa Carta que expressa seu apoio ao atual texto do Marco Civil da Internet, ressaltando a qualidade tanto do debate público realizado quanto do extenso relatório que explica e analisa em detalhes as soluções propostas. Acreditamos que o Marco Civil será um marco legislativo paradigmático, essencial não apenas para a regulação democrática da rede no Brasil, mas também como caso positivo para se pensar os direitos e deveres no âmbito internacional. Por isso, pedimos a aprovação imediata do Marco Civil. Somente com ele, poderemos desenvolver de forma plena todo o potencial humano, social, econômico, tecnológico e cultural da Internet.
Brasília, 07 de agosto de 2012.
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