Entre 1 e 6 de dezembro, a jornalista e integrante do Intervozes, Júlia Lanz Monteiro, representou o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) no BRICS Youth Leaders Campus on Science, Technology and Innovation, realizado nas cidades de Xiamen e Quanzhou, no sul da China. O encontro reuniu delegações da Rússia, Índia, África do Sul, Indonésia, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Brasil e China, entre conselheiros nacionais de juventude, pesquisadores e especialistas em inovação.

A participação ocorreu no ano da presidência brasileira do BRICS, onde o país assumiu o comando do bloco sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”.
Para Júlia, que integra o Intervozes desde 2016 e tem sua trajetória no campo do direito à comunicação, o encontro representou uma oportunidade única de articular ciência, tecnologia, juventude e direitos, conectando agendas nacionais aos desafios globais.
Tecnologia, inovação e política: visitas e aprendizados
A programação oficial teve início no China-BRICS Science and Innovation Incubation Park, centro que reúne universidades, governos e empresas de inovação dos países do bloco, incluindo mais de quinze instituições brasileiras. O espaço permitiu observar como a China estrutura um ecossistema integrado entre pesquisa, indústria e planejamento estatal.
A delegação também visitou empresas como Meitu – de aplicativos de edição de imagem, Kelme – produtos esportivos, Jomoo – soluções inteligentes para casa e Mechanic Games – desenvolvimento de jogos, mostrando como apesar dos diversos setores, em todas eles ciência, design e planejamento industrial se articulam diretamente. Além disso, o Campus proporcionou uma imersão histórico-cultural que evidenciou de forma concreta como política, economia, história e inovação se entrelaçam na abordagem chinesa ao desenvolvimento.
Diálogo político e articulação entre países em destaque
Durante o Campus, dois momentos se destacaram pela incidência política e pelo diálogo estratégico entre países. O primeiro foi o encontro entre Conselhos de Juventude, no qual representantes de cada nação apresentaram suas estruturas, prioridades e desafios. Nesse espaço, Júlia destacou a composição democrática do Conjuve, que assegura paridade entre governo e sociedade civil, a relevância do ECA Digital, primeira legislação brasileira voltada à proteção de crianças e adolescentes nas redes sociais, e os principais desafios vividos pela juventude brasileira em temas como acesso significativo, bem-estar digital, regulação de tecnologias e enfrentamento às desigualdades estruturais.
O segundo momento central foi o BRICS Youth Dialogue on Science, Technology and Innovation, onde Júlia representou a presidência brasileira do BRICS em um espaço mais formal, apresentando um discurso que situou a realidade da juventude brasileira e reforçou que a inovação tecnológica precisa ser guiada por direitos, inclusão e responsabilidade. Em sua fala, ressaltou que o Brasil vive um processo de reconstrução científica e tecnológica, com retomada de investimentos em pesquisa, fortalecimento de bolsas e estímulo a áreas prioritárias. No entanto, enfatizou que responsabilidade e equidade são pilares essenciais desse processo: “Somos um país diverso e defendemos um avanço tecnológico que respeite direitos e reduza desigualdades.”
Entre os temas levados ao debate, a delegação brasileira tratou da proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital, apresentando o ECA Digital como marco inédito voltado à garantia de direitos e transparência nas plataformas. Também abordou a regulação da Inteligência Artificial como um possível caminho para prevenir que algoritmos reproduzam racismo, desigualdades ou discriminações estruturais. Outros riscos digitais foram discutidos com base em dados recentes sobre a dependência de adolescentes em plataformas de apostas online e os impactos disso na saúde mental, no endividamento e no bem-estar digital, reforçando a urgência de políticas robustas de literacia digital e de regulação das plataformas.
A questão do acesso significativo à internet foi igualmente enfatizada. A delegação brasileira lembrou que, no país, muitos jovens ainda precisam esperar a renovação do pacote de dados para acessar serviços essenciais como Gov.br ou mesmo notícias, evidenciando que debater acesso significativo é debater o próprio direito à comunicação. A partir dessas reflexões e da Nota Conceitual da Presidência Brasileira para a Cúpula de Juventude, o Brasil apresentou três propostas prioritárias de cooperação ao BRICS: Inteligência Artificial Ética e Soberania Digital; Educação Digital para os Jovens; e Redes de Inovação e Startups Juvenis; cada uma estruturada em ações práticas como laboratórios colaborativos, repositórios de dados multilingues, bolsas de pesquisa, escolas móveis de tecnologia, programas de mobilidade acadêmica, mentorias, parques tecnológicos transnacionais e rodadas de investimento voltadas a projetos de juventude em temas como saúde, clima, saneamento e energia.
Intercâmbio e cooperação: o futuro da juventude do Sul Global
Ao longo dos cinco dias de atividades, ficou evidente que, apesar das diferenças econômicas e culturais, os países do BRICS compartilham desafios comuns diante da transformação digital: inclusão digital, governança democrática da tecnologia, proteção de direitos, formação profissional e soberania informacional. Com 48,5% da população mundial concentrada no bloco, grande parte composta por jovens, a cooperação em ciência, tecnologia e inovação torna-se estratégica. Para Júlia, a experiência reforçou que ciência, tecnologia e política não são esferas separadas. “O futuro da inovação global depende de cooperação, responsabilidade e participação direta da juventude.”
A participação de Júlia no BRICS Youth Leaders Campus reafirma ainda a trajetória histórica do Intervozes na defesa do direito à comunicação, na promoção da regulação democrática da tecnologia, na luta por soberania digital e inclusão, e no fortalecimento do bem-estar digital.