O Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social vem, por meio desta nota, lamentar a morte de Alberto Dines, jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor, e prestar nossa solidariedade à família, amigos e colegas de trabalho.

Além de um profícuo profissional, com larga trajetória em diversos veículos de comunicação do país, Dines foi voz ativa, muitas vezes solitária na paisagem midiática, na discussão sobre a ética no jornalismo e o sistema de comunicação. Foi por meio do seu trabalho na Folha de S. Paulo, em 1975, com a criação da coluna “Jornal dos Jornais”, que o Brasil começou a ver nas páginas impressas a crítica aos conteúdos jornalísticos – uma prática ainda tão rara em nossa imprensa.

Dines contribuiu para romper o silêncio que a mídia hegemônica impôs à pauta da democratização dos meios. Liderou o programa Observatório da Imprensa por mais de 20 anos, ajudando, com isso, a projetar debates e a formar toda uma geração de profissionais e militantes da luta pelo direito à comunicação. Em 2016, a política de censura imposta pelo governo de Michel Temer e seus asseclas na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) levou ao encerramento do programa.

Essa situação mostra também a atualidade da resistência na prática profissional, algo que caracterizou a vida de Alberto Dines. É conhecida sua postura ativa e crítica no contexto da Ditadura Militar. Na década de 1960, deixou o jornal Diário da Noite, que ele dirigia, por não obedecer a ordem de ignorar o sequestro do navio Santa Maria, em Recife, feito em protesto contra a ditadura de Antônio Salazar em Portugal. No Jornal do Brasil, em 1968, criativamente tratou do cenário do país após a promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), utilizando texto típíco da previsão do tempo para alertar a sociedade e denunciar a censura. Por suas ações e denúncias, Dines chegou a ser preso em dezembro daquele ano.

No Brasil, o que temos hoje é “temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…”, tal qual escreveu naquela ocasião. Que seu exemplo fortaleça a postura crítica dos profissionais de comunicação e da sociedade em geral. Calar não é uma opção, sobretudo quando se trabalha levando informação ao conjunto da população. Sejamos críticos. Lutemos pela democracia. E façamos dessas lutas uma forma de homenagear os que vieram antes de nós.

 

23 de maio de 2018

 

Foto: TVE/RJ Divulgação