2023 foi o ano mais quente da história do planeta, segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM). No Brasil, a média das temperaturas do ano ficou em 24,92°C, ou seja, 0,69°C acima da média histórica de 1991-2020, que é de 24,23°C.[1] A chamada crise climática é estruturada e acelerada por um modelo socioeconômico capitalista, baseado no racismo ambiental, na apropriação privada, na mercantilização e na exploração desmedida da água, do solo e dos demais bens comuns. Suas raízes históricas remontam ao colonialismo e às relações de poder e opressão do Norte sobre o Sul Global.

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Fato é que, nos últimos anos, o tema tomou conta da agenda da população brasileira, sendo assunto constante nas redes sociais, na mídia tradicional e na vida cotidiana. Seja em decorrência de eventos ambientais adversos e trágicos, como secas, enchentes e queimadas, seja por força de declarações de figuras públicas, expressões e categorias como “crise climática”, “energias verdes”, “energias renováveis” e “transição energética” circulam cada vez mais no debate público.

Nesse contexto, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, a partir do diálogo com movimentos sociais, pesquisadoras/es, ativistas e grupos diretamente impactados pelos conflitos decorrentes dessa conjuntura – dentre eles pescadoras/es, agricultoras/es e Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) – se lançou ao desafio de analisar a cobertura de veículos jornalísticos da mídia com alcance nacional e local acerca dos empreendimentos em solo brasileiro vinculados às ditas “energias limpas”.

A pesquisa faz parte da série Vozes Silenciadas, em que o Intervozes analisa a cobertura da mídia sobre temas que impactam os direitos da população brasileira. Este é o sétimo volume da série, que já tematizou: a criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 2011; as jornadas de manifestações de junho de 2013; a reforma da previdência do governo Bolsonaro (2019); a tragédia provocada pelo crime de derramamento de petróleo na costa brasileira (2020); os direitos sexuais e reprodutivos, com foco no aborto (2023); e as leis de cotas para acesso ao ensino superior no país (2024). Todos os volumes da série estão disponíveis gratuitamente no site do Intervozes.[2]

Próximo de sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em 2025, e assumindo compromissos internacionais e um papel estratégico na economia global como sede do G20, o Brasil vem se colocando como protagonista na chamada transição energética, imprimindo ritmo acelerado à implantação de megaprojetos de energia renovável e lançando as bases de políticas de compromisso que alegam enfrentar a chamada crise climática.

Tais políticas, entretanto, têm se mostrado insuficientes no enfrentamento das raízes profundas de um cenário de injustiça socioambiental marcante, atuando mais como esforços retóricos e sinalização ao mercado (numa estratégia de greenwashing) do que, propriamente, apresentando soluções justas, eficazes e que respeitem os biomas e a autonomia dos povos sobre seus territórios.

Nós, do Intervozes, esperamos que este olhar sobre como as mídias corporativa e pública têm se colocado no debate como ator estratégico que é, ajude no fortalecimento da luta de quem, a partir dos territórios, nos presta valiosas lições de como habitar muitos mundos em coerência e em defesa da biodiversidade e do bem viver.

Que esta pesquisa alimente discussões e buscas de soluções a partir de perspectivas diversas e críticas, fortalecendo as lutas no Brasil, na América Latina e mundo afora, ajudando a transformar as angústias necessárias em férteis esperançares.

Boa leitura!

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