Presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima, recebeu comissão de organizações críticas à atual gestão, que promove corte de funcionários e parcerias com veículos privados.

[Título original: Conselho da TV Cultura abre diálogo com críticos da gestão Sayad] 

Representantes de organizações críticas à administração do economista João Sayad na TV Cultura foram recebidos nesta segunda-feira (16) pelo presidente interino do conselho curador da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima, que tem papel colaborador na gestão da emissora.

No encontro, a Carta Maior apurou que o presidente interino comprometeu-se a convidar as organizações a participarem da próxima reunião do conselho, em meados de maio, e ainda propôs realizar um seminário para discutir o caráter público da tevê.

“O encontro foi uma importante abertura de diálogo, mas é preciso que os compromissos se concretizem”, disse João Brant, membro da coordenação executiva do Coletivo Intervozes.

Pouco antes, Cunha Lima havia disputado com o advogado Belisário dos Santos Jr. o cargo de presidente do conselho curador, mas a eleição terminou empatada, com 21 votos para cada um. Um novo pleito terá de ser feito, quando se espera o comparecimento de conselheiros que faltaram.

A reunião entre críticos da gestão Sayad e Cunha Lima ocorreu após um protesto em frente ao complexo da TV Cultura, na zona oeste de São Paulo. Participaram sindicatos, como os dos jornalistas e o dos radialistas, e associações como o Centro de Estudos Barão de Itararé.

As reformas adminstrativas e mudanças na programação empreendidas por Sayad têm mobilizado profissionais de comunicação, sindicalistas, artistas e parlamentares. Entre elas, destacam-se a redução do quadro de funcionários – segundo os manifestantes, em mais de mil profissionais -, e a extinção de programas tradicionais, como Zoom, Grandes Momentos do Esporte e Vitrine.

Para ocupar a grade, a TV Cultura convidou tradicionais veículos da grande imprensa paulista para fornecerem conteúdos, entre eles Folha de S. Paulo, Estadão e Veja. Por enquanto, apenas a Folha ocupou o espaço, com um jornalístico nas noites de domingo. Segundo o próprio jornal, foi feita uma permuta: a tevê cedeu espaço em troca de espaço publicitário no jornal impresso.

As organizações que protestam contra Sayad também lançaram uma carta aberta ao conselho curador, cuja íntegra pode ser lida abaixo:

“CARTA ABERTA AO CONSELHO CURADOR DA FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA

As rádios e a TV Cultura de São Paulo se consolidaram historicamente como uma alternativa aos meios de comunicação privados. As rádios AM e FM ficaram conhecidas pela excelente programação de música popular brasileira e de música clássica. A televisão criou alguns dos principais programas de debates de temas nacionais, como o Roda Viva e o Opinião Nacional, constituiu núcleos de referência na produção de programas infantis e na de musicais, como o Ensaio e o Viola, Minha Viola, e deu espaço à difusão de curtametragens, com o Zoom. As emissoras tornaram-se, apesar dos percalços, um patrimônio da população paulista.

Contudo, nos últimos anos, a TV e as rádios Cultura estão passando por um processo de desmonte e privatização, com a degradação de seu caráter público. Entre outros fatos se destacam:

· mais de mil demissões, entre contratados e prestadores de serviço (PJs);
· extinção de programas (Zoom, Grandes Momentos do Esporte, Vitrine, Cultura Retrô, Login) e tentativa de extinção do Manos e Minas;
· demissão da equipe do Entrelinhas e extinção do programa, sem garantias de que ele seja quadro fixo do Metrópolis;
· aniquilação das equipes da Rádio Cultura e estrangulamento da equipe de jornalismo e radialismo;
· enfraquecimento da produção própria de conteúdo, inclusive dos infantis;
· entrega, sem critérios públicos, de horários na programação para meios de comunicação privados, como a Folha de S.Paulo;
· cancelamento de contratos de prestação de serviços (TV Justiça, Assembleia e outros);
· doação da pinacoteca e biblioteca;
· sucateamento da cenografia, da marcenaria, de maquinaria e efeitos, além do setor de transportes.

A participação das verbas públicas no orçamento tem diminuído ano a ano e as opções que têm sido feitas são de difícil reversão em futuro próximo. Neste momento difícil para a Fundação Padre Anchieta, o seu Conselho Curador tem papel fundamental na defesa de seu caráter público. É preciso que ele tome posição firme e decidida contra a dilapidação desse patrimônio do povo de São Paulo, sob pena de se tornar cúmplice e corresponsável pelo processo de desmonte.

Acreditamos que a defesa do caráter público das rádios e TV Cultura passa neste momento pelos seguintes pontos:

1 – Contra o desmonte geral das emissoras e pela retomada dos programas da casa que foram encerrados;
2 – Interrupção do processo de demissões e revisão das realizadas durante a gestão do atual presidente;
3 – Interrupção imediata dos programas da mídia comercial na programação da TV Cultura, a exemplo do TV Folha;
4 – Por uma política transparente e democrática para abertura à programação independente, com realização de editais e pitchings e avaliação de propostas já apresentadas, como a apresentada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé;
5 – Em defesa do pluralismo e da diversidade na programação;
6 – Pela democratização do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

São Paulo, 16 de abril de 2012

· Altercom – Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação
· Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
· CBC – Congresso Brasileiro de Cinema
· CUT – Central Única dos Trabalhadores
· Frente Paulista pelo Direito à Comunicação e Liberdade de Expressão
· Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
· Sindicato dos Radialistas do Estado de São Paulo
· Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo

Gilberto Maringoni, Hamilton Octavio de Souza, Ivana Jinkings, Joaquim Palhares (Agência Carta Maior), Laurindo Lalo Leal Filho, Luiz Carlos Azenha (blog Vi o Mundo), Luiz Gonzaga Belluzzo, Renato Rovai (Revista Fórum e Presidente da Altercom) , Rodrigo Vianna (blog Escrevinhador), Wagner Nabuco (Revista Caros Amigos), Emir Sader, Flávio Aguiar e João Batista Pimentel (Observatório Cineclubista Brasileiro).”

Fonte: Marcel Gomes, do Observatório do Direito à Comunicação, em 17/04/2012.