Nesta segunda-feira, 24 de agosto, um conjunto de organizações que atuam em em defesa da liberdade e dos direitos dos usuários na Internet – entre elas o Intervozes -, divulgaram carta protocolada junto ao Comitê Gestor da Internet no Brasil questionando a ausência de manifestação do órgão sobre o projeto Internet.org, da empresa Facebook. No último dia 31 de julho, em reunião mensal ordinária, o CGI.br decidiu não se posicionar sobre a chegada do projeto ao país.

Para as organizações, o Internet.org, entre outros problemas, viola a neutralidade de rede, ao restringir o acesso a determinados aplicativos e não livre à toda a internet; viola o direito de escolha do consumidor, pois quem define o provedor de conexão à internet e as aplicações a serem acessadas é o Facebook; e representa vantagem anticoncorrencial, pois privilegia determinadas empresas, comprometendo a inovação.

Por isso, elas entendem que, tendo em vista o papel que o Marco Civil da Internet atribuiu ao CGI.br no que diz respeito à promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, uma manifestação do Comitê é mais do relevante. Assim, pedem que a questão seja objeto de uma reunião aberta, para que haja algum tipo de reação do CGI.br ao problema, que, como afirmam, envolve diversos aspectos que impactam diretamente a integridade, o desenvolvimento e o futuro da internet no Brasil.

Leia abaixo a íntegra da carta:

Prezados Conselheiros,

Diante da divulgação do ocorrido na reunião mensal do Comitê Gestor da Internet no Brasil do dia 31 de julho, nós, um grupo de organizações da sociedade civil, especialistas em tecnologia, direitos do consumidor e direito à comunicação comprometidos com a defesa da liberdade e direitos na Internet, decidimos externar nossa preocupação a respeito da ausência de manifestação do CGI.br sobre o projeto Internet.org, da empresa Facebook, no Brasil.

Entendemos que a manifestação é oportuna e relevante, tendo em vista o papel que o Marco Civil da Internet atribuiu ao CGI.br no que diz respeito à promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet no Brasil e, mais, diante da expectativa gerada com o questionamento que o conselho endereçou ao Facebook, que, como também foi noticiado, foi respondido pela empresa.

Aproveitamos a oportunidade para externar resumidamente nossa posição quanto às ilegalidades relativas ao Internet.org pelas razões abaixo:

1. Violação da neutralidade de rede, em virtude do acesso restrito a determinados aplicativos e não livre à toda a internet;
2. A denominação do projeto confunde o usuário final e passa a ideia errada sobre o que de fato o Internet.org fornece. O Facebook não está oferecendo a internet como um todo, mas, como já foi dito, apenas a uma pequena parcela dela que acaba passando pelo seu crivo antes de ser disponibilizada. Ao mesmo tempo, a iniciativa não pode ser definida como “.org”, já que tem viés claramente comercial voltado a estimular a contratação de serviços ofertados na internet;
3. Viola o direito de escolha do consumidor, pois quem define o provedor de conexão à internet e as aplicações a serem acessadas é o Facebook;
4. Representa vantagem anticoncorrencial, pois privilegia determinadas empresas, comprometendo a inovação.

Além disso e principalmente questionamos a adequação das finalidades do projeto Internet.org com os objetivos de inclusão digital, nos termos do Marco Civil da Internet e Plano Nacional de Banda Larga.

Ressaltamos que não temos o objetivo de nos opormos a modelos de negócios do Facebook ou qualquer outra empresa, contanto que não firam os direitos dos cidadãos e dos consumidores protegidos pela legislação vigente e contrariem o interesse público.

Porém, não acreditamos que o Estado deva permitir iniciativas que limitem o acesso à informação de forma autocrática e com viés de modelos de negócios com a justificativa da sustentabilidade, pois, tal permissão além de ir contra os princípios defendidos no MCI, também vai contra os princípios norteadores para uma governança da internet de forma plural, permitindo que toda a sociedade possa ser partícipe nos processos decisórios de qual internet todos nós queremos, subjugando principalmente os cidadãos de baixa renda a um acesso discriminatório, excludente e restrito.

Neste sentido, requeremos que a questão seja objeto de uma reunião aberta, a fim de retomar a discussão no conselho do órgão para que haja algum tipo de reação do CGI.br à questão, que envolve diversos aspectos que impactam diretamente a integridade, o desenvolvimento e o futuro da internet no Brasil.

Colocando-nos à disposição para esclarecimentos, esperamos resposta desse Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Assinam esta carta:

ACTANTES
Barão de Itararé – Centro de Estudos da Mídia Alternativa
Centro Cultural Coco de Umbigada – Olinda/PE
CIBERCULT – Laboratório de Comunicação Distribuída e Transformação Política – ECO UFRJ
Clube de Engenharia
Comunidade Curitiba Livre
Coletivo Digital
Coletivo Locomotiva Cultural
Coletivo Soylocoporti
FotoLivre
Fora do Eixo
Fundação Blogoosfero
Hackagenda
IBIDEM – Instituto Beta para Internet e a Democracia
InCiti – Inovação e Pesquisa para as Cidades – UFPE
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Instituto Bem Estar Brasil
Instituto Brasileiro de Políticas Digitais
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
LABIC IFES
Mídia Ninja
Movimento Mega
Núcleo do Barão de Itararé no Paraná
ParanáBlogs – Associação de Blogueiros e Ativistas Digitais do Paraná
PROTESTE – Associação de Consumidores
Rede Espírito Livre
Software Livre Brasil
TIE-Brasil