Durante o protesto, manifestantes distribuíram flores e defenderam a liberdade de expressão e o fim da violência e impunidade policial

Neste sábado, 28, as ruas de São Paulo foram palco da 1° Marcha pela Liberdade. Após a proibição da Marcha da Maconha, no último dia 21, manifestantes se reuniram para defender o direito de se expressar. Entre os presentes, estavam representantes de movimentos sociais e principalmente pessoas que se mobilizaram independentemente pela internet.

Para o representante do Circuito Fora do Eixo, Pablo Capilé, a manifestação foi bastante diversificada. “Cada movimento e cada pessoa se aproveitou do tema da liberdade para defender outras causas como o fim da homofobia e o passe livre estudantil”, afirma Pablo. João Brant, associado do Intervozes, explica que ausência de uma coordenação não atrapalhou o movimento. “Não tinha carro de som e nem faixas grandes, eram pessoas organizadas pela defesa da liberdade de expressão”, relata João.

A proibição

Na sexta-feira, 27, a Marcha pela Liberdade foi proibida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), estendendo os efeitos da proibição da Marcha da Maconha. Segundo nota do desembargador Paulo Rossi divulgada no site do TJ-SP, “a passeata faria apologia ao crime e incitaria o uso de drogas”. A decisão não impediu os manifestantes de se concentraram no vão do Museu de Arte de São Paulo, de onde seguiram em passeata pela Avenida Paulista.

Havia 200 policiais militares e 60 policiais do Batalhão de Choque para um grupo de mais de 4 mil participantes. Pablo Capilé relata que a manifestação foi pacífica e sem incidentes relevantes. “Após a repercussão negativa da atitude da polícia, a gente já esperava que eles não fossem agir com a mesma agressividade da Marcha da Maconha”, diz Pablo. Para o jornalista Júlio Delmanto, um dos organizadores da Marcha da Maconha, a polícia foi minimamente sensata. “Eles não poderiam cumprir uma decisão judicial tão grotesca como uma que impede a realização de uma Marcha pela liberdade, e sabiam que os manifestantes não aceitariam isso”, argumenta Júlio.

Ainda assim, os manifestantes tiveram de negociar com os policias antes de saírem em passeata, como explica João Brant: “O acordo era que eles não interfeririam se a gente não fizesse apologia ao crime como o uso de drogas e o aborto”. Para o representante do Intervozes, isso explicita um desrespeito a liberdade de expressão. “Ainda existe uma lógica restritiva que impede protesto contra as leis vigentes”, conclui João. O relatório de 2008 da Organização do Estados Americanos (OEA) define que caso não haja propaganda a favor da guerra ou em apologia ao ódio religioso, racial e nacional, as marchas cidadãs pacíficas são protegidas pelo direito de expressão.

A internet

Pablo Capilé destaca a importância da internet para o sucesso da marcha evento. Para o representante do Circuito Fora do Eixo, “o mais interessante é o autoprotagonismo, as pessoas descobrem que podem se mobilizar sem precisar necessariamente de uma instituição ou movimento”. Para João Brant, as redes sociais tem um potencial enorme. “Há pelo menos três anos as marchas da maconha estão sendo proibidas e só agora conseguimos uma reação significativa”. João alerta, no entanto, que é preciso que as ideias acompanhem causas concretas e busquem influenciar o Estado. O jornalista Júlio Delmanto afirma que já existem movimentações mais direcionadas. “Esperamos agora um julgamento no Superior Tribunal Federal para que as marchas como a da Maconha finalmente seja realizada sem problemas”, explica Júlio.

Novas mobilizações

No dia 18 de junho, estão previstas marchas simultâneas pela liberdade em todo o país. “Já recebemos sinalizações positivas de Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Belém, e outras certamente virão”, explica otimista Júlio Delmanto. O eixo das manifestações será a regulamentação da atuação policial em manifestações e o protesto contra a censura “Esperamos conseguir manter essa bonita pluralidade de grupos presentes dentro da Marcha da Liberdade e conseguir levar cada vez mais nossos recados ao resto da sociedade”, conclui o jornalista. As informações sobre as próximas manifestações serão divulgadas no site www.marchadaliberdade.org

Fonte:  Ana Rita Cunha, para o Intervozes.