Entre os dias 13 e 24 de outubro, dezenas de protestos, atividades e debates aconteceram em todo o país em mais uma Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, organizada por dezenas de entidades e pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. Além da coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, a Semana deste ano, realizada durante o período eleitoral, foi marcada pelo tema do coronelismo eletrônico – ou seja, os políticos que controlam empresas de comunicação e emissoras concessionárias de rádio e TV.

Em Brasília, na capital do país, cartazes foram espalhados pela cidade denunciando esta prática que viola a Constituição Federal e é extremamente danosa para a democracia brasileira, sobretudo em momentos de eleição. No dia 17 de outubro, a Faculdade de Comunicação da UnB sediou um debate sobre o tema. A pesquisadora Susy dos Santos, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas e Economia da Informação e da Comunicação (PEIC), participou do debate por videoconferência.

Segundo a pesquisadora, especialista no tema, o radiodifusor não precisa ser um coronel tradicional, dono de terras e de poder político na sua região, para ser inserido no conceito de coronelismo eletrônico. “Essa relação clientelista, no entanto, provoca uma ruptura na autonomia das instituições sociais porque mantém um alinhamento da mídia com interesses partidários”, explicou.

Bia Barbosa, coordenadora do Intervozes e membro da coordenação executiva do FNDC, reforçou a importância do tema ser debatido com a sociedade em geral. “Enquanto a sociedade não se indignar com o controle de outorgas de rádio e TV para políticos, o debate público das questões mais essenciais para a população estará contaminado por essa troca de benefícios entre políticos e mídia”, afirmou.

Também participou do debate a pesquisadora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Chalini Torquato Barros, que falou sobre a problematização teórica do conceito de democratização da comunicação. O encontro foi mediado pelo professor Fernando Paulino, da disciplina de Políticas da Comunicação da UnB.

No Rio Grande do Norte, um vídeo contra os coronéis da mídia foi gravado no dia 17 em frente à InterTV Cabugi (retransmissora da Globo), controlada pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN). Militantes pela democratização da comunicação entregaram panfletos à população e também numa festa que a própria InterTV organizou na Praça da Árvore de Natal, ponto estratégico na zona sul da capital potiguar.

Nesta semana, um estande pela democratização da comunicação foi montado a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura, que acontece dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O coronel da mídia José Agripino, senador pelo DEM, mandou um capanga intimidar os militantes. O advogado do Democratas exigiu a retirada dos cartazes da campanha instalados no estande. “Depois de muita negociação, a universidade permitiu a permanência dos cartazes, mas exigiu que as informações pessoais dos digníssimos deputados fossem ocultadas. Eles só não disseram como teríamos que fazer isso”, conta Iano Flávio Maia, do Intervozes-RN. Os ativistas aproveitaram então para denunciar a censura que estavam sofrendo, e o estande passou a ser um dos mais movimentados da feita.

Manifestações e colagens Brasil afora

Em São Paulo, um escracho contra os coronéis da mídia foi feito em frente à antena da Globo, na Avenida Paulista. O Levante Popular da Juventude levou sua batucada, que entoou canções contra a Globo e os políticos donos da mídia.

No Rio de Janeiro, a Frente Ampla pela Democratização da Comunicação/Comitê do FNDC promoveu uma aula pública contra o conservadorismo na mídia, onde o controle de emissoras por parlamentares também foi denunciado. Os cariocas lembraram casos de apresentadores de programas policialescos que, se aproveitando da TV enquanto palanque eleitoral, alçaram vôos mais altos e se elegeram deputados estaduais e federais nas eleições deste ano – como o caso do apresentador Wagner Montes, eleito para a Assembleia Legislativa pelo PSD.

No Ceará, as atividades da Semana pela Democratização da Comunicação começaram no dia 16 em Fortaleza, com uma roda de conversa sobre a campanha Fora Coronéis da Mídia. A roda fez parte da Conversa de Quintal, no Diretório Acadêmico do curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará. No dia 17, os militantes se reuniram em frente à TV Cidade, que em janeiro protagonizou o triste episódio de veiculação do estupro de uma menina de 9 anos em sua programação. Cartazes contra o senador dono da mídia Tasso Jereissati (PSDB/CE) e o deputado fora da lei Eunício Oliveira (PMDC/CE) foram pregados nos postes em frente à TV Jangadeiro.

Na Bahia, as ruas da região onde ficam as sedes das TVs Bahia, Record e Aratu, na capital do estado, amanheceram no dia 18 repletas de cartazes contra o prefeito de Salvador e dono da mídia Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM/BA)

Em Sergipe, as sedes de empresas de comunicação, prédios públicos e ruas de Aracaju amanheceram no dia 17 com cartazes denunciando a propriedade de emissoras de rádio e TV por políticos e o uso político-eleitoral da programação dessas emissoras. Em Sergipe, a campanha Fora Coronéis da Mídia denunciou as famílias Franco, Alves e Amorim, que controlam a mídia local.

Outras lutas

As atividades da Semana pela Democratização da Comunicação no estado também incluíram um debate sobre Liberdade de Expressão no dia 14, com a presença do jornalista Cristian Góes, condenado por publicar uma crônica denunciando o coronelismo em Sergipe. Na quarta, 15, aconteceu o seminário sobre Economia Política da Música, em que foram apresentados os resultados da pesquisa sobre a cadeia produtiva da música sergipana, feita pelo Observatório de Economia e Comunicação da UFS. No dia 16, aconteceu um debate sobre Comunicação Pública, na Fundação Aperipê, tendo como expositores César Bolaño (professor da UFS) e Luciano Correia (diretor-presidente da Aperipê). Por fim, no dia 17, aconteceu a Audiência Pública “Políticas de Comunicação em Sergipe: possibilidades e desafios”.

No Rio de Janeiro, ocorreu também um debate sobre jornalismo e homofobia, abrindo a programação da Semana pela Democratização da Comunicação no dia 15, no Sindicato dos Jornalistas. A atividade contou com a presença do jornalista Bruno Bimbi, ativista gay argentino autor do livro “Casamento igualitário” (Garamond, 2013). No sábado (18), foi lançado o Guia Mídia e Direitos Humanos, publicado pelo Intervozes, no Museu da Maré, ameaçado de remoção. A atividade contou com ampla participação de movimentos populares do estado. A publicação oferece instrumentos para que sejam feitas coberturas respeitadoras dos direitos de negras e negros, população LGBT, mulheres, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes e população idosa. Além de contextualizar as bandeiras de luta desses grupos, oferece aos leitores um glossário e um guia de fontes.

Para saber mais sobre a campanha Fora Coronéis da Mídia, realizada pelo Intervozes, Enecos e Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, visite o site www.foracoroneisdamidia.com.br 
Todas as fotos das ações realizadas durante a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação estão disponíveis na página do facebook da campanha