Desde 2019, o Intervozes tem trabalhado em parceria com as comunidades Guarani do estado de São Paulo para refletir sobre tecnologias, comunicação e seus usos. Por meio do projeto Laboratório Tático do Comum (LabTaCo) foram realizados encontros e campanhas de comunicação voltadas para o fortalecimento dos modos de vida indígena. Agora, o projeto entra em nova fase para apoiar a instalação de internet e a elaboração de protocolos de usos nos territórios Guarani, ao lado das comunidades, do CooLab e do Comitê Interaldeias.

Tekoa é a palavra guarani para aldeia. Teko significa modo de vida, logo, tekoa é o lugar do modo de vida. A entrada da internet em territórios indígenas facilitou a comunicação entre as aldeias e ajudou na incidência política no mundo não-indígena, mas também tem se tornado uma ferramenta por onde o mundo não-indígena vai desestruturando o Nhandereko, palavra que se refere ao modo de vida guarani.

Os guarani rapidamente entenderam que precisavam construir uma relação com a internet na qual ela não se transformasse no lugar onde se passa a maior parte do tempo e decidiram desenvolver ferramentas para ajudar na construção da autonomia tecnológica.

“Com mecanismos de captura de atenção ininterruptos e dispositivos que restringem as conexões humanas a meras interações descorporificadas, a internet tem um impacto brutal na vida de todos nós e sobretudo para quem vive em comunidade. A captura da atenção para um lugar fora da tekoa desmantela o teko, corroendo as relações comunitárias”, destaca Pedro Ekman, coordenador executivo do Intervozes, que acompanha o projeto de perto.

Foram instalados filtros nos roteadores de sinal que restringem os endereços que podem ser acessados em determinados períodos. Assim, no horário em que a internet está restrita, apenas os aplicativos de mensageria seguem funcionando para manter a comunicação ativa. Cada aldeia tem autonomia para decidir em que horários a internet ficará acessível e quando estará restrita.

Também foram incluídos filtros de bloqueio de publicidade para melhorar a navegação, que é feita por conexão via satélite, eliminando o grande volume de dados consumidos involuntariamente. Em cada aldeia foi instalada uma intranet que pode ser acessada via wi-fi e sem necessidade de acesso à internet, onde conteúdos do Nhandereko guarani ficam à disposição para serem consultados e gerenciados pela comunidade.

O Nhandeflix, plataforma da intranet que reúne conteúdos produzidos por indígenas, já está fazendo sucesso nas aldeias.

Tela inicial do Nhandeflix