O Intervozes divulga em Brasília pesquisa que analisa a cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito de 2010. O relatório já está disponível para download.

O relatório “Vozes Silenciadas”, resultante da pesquisa realizada pelo Intervozes analisando a cobertura da mídia sobre o MST, foi lançado oficialmente na noite da última quarta-feira (24), durante o Acampamento Nacional da Via Campesina, em Brasília. O lançamento do “Vozes Silenciadas” contou com a participação da pesquisadora responsável pelo relatório, a jornalista e professora do curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Mourão, do jornalista Leandro Fortes, da revista Carta Capital, e de dirigentes do movimento.

Para Mônica Mourão, pesquisadora responsável pelo relatório, um dos principais méritos da pesquisa é que ela tira o movimento do “achismo” e comprova por meio de dados a realidade da criminalização de suas bandeiras na grande mídia. “A pesquisa constatou que não há uma invisibilidade do movimento em si, mas de suas lutas e, na maioria das vezes, o movimento é citado como referência pejorativa”, afirmou.

Mônica também destaca que a maioria das matérias da grande mídia que citam o movimento são para associá-lo a algo negativo. “A pesquisa constatou que há uma constante associação do movimento a termos negativos – ao todo foram encontrados 192 termos diferentes, como baderna, invasão, ilegalidade – e os acontecimentos relacionados ao movimento só viram notícia quando tem algum conflito”, ressaltou a pesquisadora. “E, neste caso, só há relato do conflito, sem se apresentar nenhuma possibilidade de solução dos problemas expostos”, pontuou.

Para a realização da pesquisa foram analisados três jornais de circulação nacional (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo); três revistas também de circulação nacional (Veja, Época e Carta Capital); e os dois telejornais de maior audiência no Brasil: Jornal Nacional da Rede Globo e o Jornal da Record. Ao todo foram analisadas 301 matérias que mencionaram o MST durante o tempo em que ele foi alvo de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional, entre os meses de fevereiro e julho de 2010.

30 anos do Jornal Sem Terra
Na mesma noite em que foi lançado o relatório “Vozes Silenciadas”, o acampamento também comemorou os 30 anos de existência do Jornal Sem Terra, veículo de comunicação organizado pelo próprio MST. Para Vilson Santin, integrante da Coordenação Nacional do MST, “O Jornal Sem Terra tem sangue, lágrima e sorriso de cada pessoa que conseguiu seu pedaço de chão e colheu o pão da terra conquistada. Ele é parte integrante de tudo o que a gente faz e fará para alimentar o povo Sem Terra”.

Leandro Fortes, jornalista da revista Carta Capital, que também participou das atividades, reforçou a necessidade dos movimentos sociais fortalecerem seus meios de comunicação.  “A mídia é elitista, abomina a discussão sobre o fim e limite dos latifúndios no Brasil e sempre verá os sem-terra como invasores e vândalos”, defendeu Leandro..Vozes

Fortes definiu o jornal do MST, um veículo de comunicação que nasceu antes do próprio movimento, como um instrumento de resistência que não submeteu às tentativas de criminalização. “É preciso que vocês façam uma contrarrevolução, gerando os meios de comunicação e seus próprios jornalistas. A história do maior movimento social do Brasil só será contada quando vocês tiverem formas de contá-la”, conclui o jornalista.

Confira aqui a íntegra da pesquisa “Vozes Silenciadas: a cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito”.